Vitivinicultura: novo presidente do Ibravin, Dirceu Scottá expõe perspectivas para o futuro

No último mês de dezembro, Dirceu Scottá foi eleito para presidir o Conselho Deliberativo do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) no biênio 2016/2017. Enólogo da vinícola Dal Pizzol há 22 anos e Presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), Scottá considera a busca por maior competitividade do produto brasileiro no mercado um dos maiores desafios para o futuro. “Precisamos valorizar mais o nosso produto, viabilizar a atividade vitivinícola desde a produção da uva até a chegada ao consumidor final”, resume. Confira a sua análise sobre o momento do setor e perspectiva de ações para o futuro.

SERRANOSSA – Como você avalia a vitivinicultura em meio à crise financeira no Brasil? 
Dirceu Scottá –
O setor acaba sendo afetado pela retração no consumo das famílias, mas devemos registrar que em 2015 tivemos um resultado positivo na maioria dos produtos, com crescimento nos vinhos, sucos e espumantes. Alguns aspectos que estão ligados à crise, como o aumento da tributação, diminuem a nossa competitividade num período que poderia ser mais favorável em função do câmbio que afeta o vinho importado. 

SN – Quais são os principais gargalos enfrentados pelo setor? O que diria que foi superado nos últimos anos? 
Scottá –
Os principais gargalos continuam sendo o excesso de tributos, os altos custos de produção e a falta de linhas de financiamento para reconverter e modernizar nossa viticultura e vinícolas. Quanto ao que melhoramos nos últimos anos, afirmamos que superamos parte da desconfiança quanto à qualidade dos nossos vinhos, firmamos a imagem de excelentes produtores de espumantes e na melhoria da imagem do setor. 

SN – Que estratégias o setor pretende usar para contornar o aumento do IPI para os vinhos? 
Scottá –
A estratégia principal é trabalhar para reverter esse aumento, aos modos do que já tinha sido aprovado na Câmara de Deputados e Senado, que fixava para 2016 um IPI máximo de 6% e, para 2017 em diante, um IPI máximo de 5%, para que não penalize o setor como já está penalizando neste início de ano. Buscar o diálogo com o governo para que compreenda que, com o índice de 10%, teremos prejuízos imensuráveis para toda a cadeia vitivinícola ao longo dos próximos anos. 

SN – De que forma pode-se incentivar as pequenas cantinas para deixá-las mais competitivas para o mercado? 
Scottá –
O Programa Alimento Seguro (PAS) Uva para Processamento é um bom caminho para ajudar na qualificação da matéria-prima e, consequentemente, dos vinhos. O acesso à participação nos comitês é aberto a empresas de todos os portes e é fundamental para que essas pequenas empresas também levem suas demandas. Outro pleito do setor é para incluir as micro e pequenas empresas vinícolas no Simples Nacional, o que reduz custos administrativos, desburocratiza a atividade a ajuda a formalizar centenas de empreendimentos.

SN – Como pretendem defender a valorização do viticultor? 
Scottá –
Os viticultores têm assento no Conselho Deliberativo e nas decisões do setor e têm sido cada vez mais valorizados com relação ao preço que é pago pela uva. Acredito que a palavra harmonia descreve o momento que temos vivido. É claro que sempre ocorrem discussões e a colocação de pontos de vista distintos, o que é bom para avançarmos. 

SN – Que estratégias podem ser adotadas para aumentar o consumo do vinho fino no mercado interno? Os importados seguem como maior empecilho? 
Scottá –
É continuar no caminho que estamos, de elaborar produtos cada vez melhores e aumentar nossa competitividade. Não vejo os importados como empecilho, mas sim, a cultura do vinho ainda incipiente no Brasil. Esse é nosso desafio: aumentar o consumo de vinhos per capita, que hoje é de 2 litros/ano por habitante.

SN – O instituto apresenta resultados positivos no marketing de espumantes e suco de uva. De que forma essa experiência pode ajudar a estimular também o consumo do vinho fino? 
Scottá –
Para aumentar o consumo de vinho fino, volto a afirmar que precisamos aumentar a cultura do vinho no país. Estimular que as pessoas conheçam nossos vinhos. Utilizar da boa imagem e reputação dos espumantes e sucos para também alavancar a imagem e reconhecimento de bons elaboradores de vinhos tintos e brancos.

SN – Como manter as exportações em alta fora dos anos de grandes eventos internacionais no Brasil? Há novos nichos de mercado (países ou produtos buscados)? 
Scottá –
Precisamos focar em determinados mercados, os quais o ‘Wines of Brasil’, em seu planejamento, já vem trabalhando, e aproveitar o câmbio favorável. Também precisamos aumentar os volumes de produtos exportados, trabalhar na consolidação da imagem do Brasil como um jovem e promissor elaborador de vinhos espumantes e sucos de boa qualidade. 

SN – De que forma o enoturismo impulsiona a comercialização? 
Scottá –
O enoturismo propicia uma experiência que vai além da degustação e da visita de pontos turísticos. Ele permite que a pessoa adentre no mundo do vinho, com todas as suas curiosidades, sabores, aromas e todas as sensações desta bebida que tem séculos de história e que faz parte da nossa identidade regional. O crescimento do enoturismo mostra que as pessoas estão interessadas em conhecer as regiões produtoras, os diferentes terroirs e viver essa experiência de forma completa. 

SN – Quais as metas para 2016? 
Scottá –
A principal meta é reduzirmos o impacto da crise econômica e da safra com baixo volume no setor. Precisamos trabalhar de forma coesa e bastante focados para continuarmos no caminho que estamos de melhoria constante dos nossos vinhos e na consolidação da nossa imagem como um país que elabora grandes vinhos, com produção diversificada. A articulação setorial e com os governos em todas as esferas também deve ser intensificada para que possamos avançar em questões como a tributação justa, o cumprimento dos papéis de cada elo. Eu me refiro ao compromisso dos governos com o setor e o próprio setor com seus atores. Temos, ainda, uma grande expectativa de dar início ao Programa de Modernização da Vitivinicultura (Modervitis), que amplia as ações de Assistência Técnica e Extensão Rural. O Modervitis possibilita crédito para vinícolas e viticultores para ampliarem sua produtividade e qualificarem sua produção, estabelecendo uma relação mais duradoura e comprometida entre viticultor e vinícola, de modo que todos possam se desenvolver e aperfeiçoar sua atividade. A implementação de um Observatório da Vitivinicultura, que possibilite trabalhar com o que se denomina Inteligência Estratégica, buscando informações para produzir conhecimento que possa ser útil para todos os envolvidos na atividade, também é um dos principais objetivos para o próximo ano.

(Foto: Gilmar Gomes/arquivo)