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Vivenciando a grande revolução

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Há uma clara disruptura ocorrendo diante todos nós, a avalanche tecnológica avança inconsciente e aparentemente imparável mesmo sobre aqueles que não se sentem afetados. Mais do que o excesso de informação e a nossa clara dificuldade em filtrar tais informações nos deparamos agora com a face oculta das possibilidades.

É assustador o número de relacionamentos que se abalam em suas estruturas através do que deveriam ser redes para vínculos. Ansiedade convergindo para depressões profundas, dissociação entre o real e o virtual e dificuldade para definirmos se nos relacionamos com a pessoa ou com o perfil.

Bauman contempla que a grande atração dos vínculos virtuais é não a facilidade em fazê-los, mas sim desfazê-los: sem traumas, sem brigas e discussões, sem a necessidade de um encontro traumático face a face. Basta bloquear, basta fechar as portas e deixar que a distância opere por si.

Quanto espaço há dentro de nós para as tantas personalidades que hoje precisamos compor? Porque se em certa época precisávamos ser um em casa e outro no trabalho, hoje não nos bastaria sermos menos do que vários a fim de sobrevivermos nos tumultuados espaços que nos cercam dentro de um mesmo ambiente. Como definir os limites de uma discussão em nossa casa, em nosso trabalho, entre amigos, em um grupo de WhatsApp ou no Facebook? Como caber em todos os lugares sem propriamente mergulhar em nenhum que possa nos dizimar as energias?

E quem hoje foge dessa regra? Os celulares das pessoas de sessenta anos operam da mesma forma que os dos jovens de quinze. Como então habituar-se a um mundo onde pela primeira vez os jovens julgam ter mais experiência do que os mais velhos? O Google responde mais precisamente que nossos avós, o YouTube mostra mais detalhadamente como fazer, o Instagram se atualiza com mais velocidade do que nós próprios fazemos.

E não vamos confundir isso com sede por conhecimento, não, a maioria das pessoas quer apenas uma coisa: distração. Seja na folguinha em meio ao trabalho, ao acordar e antes de pegar no sono. Seja para conhecer alguém novo ou marcar um jantar com a esposa. A rede nos chama e, mesmo quando brevemente, ela nos convida a ficar… e geralmente ficamos.

Todos então precisam escolher um lado, os neutros se sentem deslocados, pois na busca de não precisarem emitir acabam por se sentir omitidos, párias que em meio à guerra precisam optar por um lado antes que sejam devorados por qualquer um. Todos precisamos ter uma opinião para tudo e de tanto opinarmos não percebemos que nos tornamos fajutos especialistas daquilo que mal entendemos.

Estamos, sim, vivenciando a grande revolução humana. Mais do que o fogo e a roda, mais do que a primeira pólvora a queimar e lançar o projétil. Mais do que as primeiras esteiras a conduzirem a revolução industrial. Vivenciamos a necessidade da onipresença, da resposta imediata, da sincronia entre infindáveis aplicativos aos quais usamos sem nem ter tempo de explorá-los antes que surja um novo.

Estamos em estado de choque, mas só percebemos quando diretamente somos dilacerados por uma sensação de desperdício, como se o mundo estivesse acontecendo e nós só pudéssemos assistir.

Nosso grande próximo conflito não será uma nova guerra com explosões e diversos países em busca de território, nosso próximo e mais brutal enfrentamento é contra a tecnologia e a nossa clara dificuldade em nos estabilizarmos dentro de algo realmente firme em nossas vidas.
 

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