Deus quer e pode vencer o mal?
O problema do mal está presente na realidade e nas perguntas do ser humano. Por que existe o mal? Porque Deus, que é amor e tudo pode, não evita o mal? Muitas vezes, olhando a história e a realidade somos impulsionados a pensar que o mal está vencendo. Mas essa é uma ilusão, porque na totalidade da vida, o mal sempre perde a batalha. O bem sempre vence a longo prazo. A sagrada escritura chega a afirmar que “nem a altura, nem a profundeza”, nada nos separará do amor. É sempre possível perceber que a vida tem sentido, que somos salvos, que a vida “pode ser eterna”. Mas, como perceber isso?
Percebemos isso a partir da fé. É bem mais difícil para alguém que não crê perceber que a vida e o bem sempre vencem. Isso porque, para alguns, a vida se resume em sofrimento e perdas. Em Jesus Cristo vemos a vitória de Deus sobre todos os poderes e dominações do mal. Vitória que já, em parte, podemos experimentar, mas não ainda de forma definitiva. O mal continuará acontecendo enquanto vivemos nesse mundo. Mas o que podemos ver é que quando uma pessoa vive na comunhão com o Deus amor, revelado em Jesus, embora o mal continue sendo inevitável, ele fica totalmente afetado pela dinâmica do bem, que harmoniza e dá sabor sempre novo a realidade. Se, por exemplo, alguém chega a me ferir maldosamente, posso perceber que a minha vida está envolvida por um amor que vai além dos ferimentos. Ninguém pode ferir o profundo de minha alma que confia e está em comunhão com Deus. Se acontecer uma tragédia grave que me faça perder pessoas que amo, posso entregá-las na comunhão de Deus, e esperar confiante um reencontro na vida definitiva. Diante disso, poderei perceber que o mal continuará inevitável, porque sofremos com tudo isso, mas as respostas que posso encontrar no amor de Deus vão enfraquecendo a força destruidora do mal em mim.
A vida é um caminho de permanente aprendizagem. A fé cristã, além de assumir essa verdade, me ajuda a aceitar aquilo que é negativo, como matéria possível para o crescimento rumo à plenitude definitiva. Não é um conformismo diante da vida e do sofrimento. É sim, percepção da dureza da realidade e ao mesmo tempo confiança plena no bem e na sua força definitiva. Com Paulo afirmamos: “Onde abundou o pecado superabundou a graça” (Rm 5, 20).
Se a realidade é sempre difícil e o mal é algo inevitável, podemos dizer que a nossa atitude mais verdadeira é lutar e trabalhar contra o mal. Deus com sua graça nos capacita para que enfraqueçamos o mal na vida do mundo. Ele também está trabalhando continuamente no esforço de amenizar o mal do mundo, muito embora, como dissemos, no mundo sempre existirá o peso do mal, porque o mundo criado é finito e limitado. Assim, tudo o que se opõe ao bem do ser humano como falta de pão, de água, de liberdade, ausência de esperança, escassez de recursos para a dignidade, falta de escola, más condições de trabalho e moradia, tudo deve ser combatido porque se opõe a Deus. A atividade de Deus e do ser humano de bem se opõe a tudo isso. Se sabemos pela fé que a ressurreição de Jesus vem dar uma resposta definitiva, dizendo que a plenitude nos espera, então tudo o que prejudica o ser humano, quer material, quer espiritual, se opõe ao plano de Deus.