Dignidade e cuidado até o último suspiro

Dignidade e cuidado até o último suspiro
Foto: Freepik

O último suspiro pode ser bonito, tocante e profundo quando temos a experiência de testemunhar a partida de quem amamos. Mas, como todos sabem, a beleza está nos olhos de quem vê. E o que eu considero belo talvez não pareça tão interessante para você.

Bom, acredito que em algum momento da sua vida, você já tenha parado para pensar sobre isso. Afinal, a proximidade com a finitude sempre conduz a uma reflexão sobre o que realmente importa para nós.

As escolhas que cada um faz após o diagnóstico de uma doença que ameaça a sua vida são muito particulares. Há quem opte por se isolar no mato, há quem queira trabalhar o último suspiro e quem deseja se aninhar na família, entre outras possibilidades (nem sempre realizáveis).

Essa variedade de caminhos sugere que a definição de uma vida boa, uma vida digna, é absolutamente subjetiva. Por isso, quanto mais cedo tivermos clareza dos nossos valores, e daquilo que faz (e dá) sentido para nós, melhor. Mesmo que nossas respostas mudem com o tempo, é melhor refletir sobre isso antes que a doença tire toda a disposição e o fôlego para sustentar indagações tão complexas e, sim, muitas vezes dolorosas.

Andreza Lazzarotto | Psicóloga clínica | CRP 07/37129 | Especializanda em Psicogerontologia. Foto: William Camargo

Investigar os próprios valores é fundamental para conduzir-se nesse território desconhecido do fim da vida. O paciente pode contar com todos os apoios possíveis nesse processo – amigos, família, médicos, psicólogos, cuidadores -, nunca esquecendo que o maior especialista é ele mesmo.

Minha sugestão é apoiá-lo a contemplar algumas perguntas:

O que é dignidade para mim?

Do que não abro mão?

Por qual vida quero “lutar”?

O que me faz sentir íntegro, respeitado?

O que é ter uma vida digna?

O que é sagrado para mim?

A próxima pergunta, que muito nos assusta, é pensar: o que considero importante e essencial no fim da minha vida?

Refletir sobre essas perguntas é difícil, mas esse exercício abre um canal para que tanto o paciente quanto seus familiares e cuidadores possam reconhecer e expressar seus desejos e preferências.

Ter a clareza do que nosso familiar deseja possibilita a você ser um guardião do que é importante para ele. Até o fim! É também o que te dará segurança e tranquilidade para tomar as inúmeras decisões que precisares tomar quando essa pessoa já não puder mais falar por si.

Para não finalizar…

“Eu me importo pelo fato de você ser você, me importo até o último dia da sua vida, e faremos tudo o que estiver ao nosso alcance, não somente para ajudar você a morrer em paz, mas também para você viver até o dia da sua morte”.

Cicely Saunders.