ENTREVISTA: vereador mais votado de Bento quer seguir os passos do pai

O sol convidativo de domingo, dia 2 de outubro, não foi o suficiente para tirar Rafael Pasqualotto de seu quarto. Em frente ao computador, com o rádio ligado, o candidato a vereador aguardava ansioso a contagem de votos. O resultado de 45 dias intensos de campanha chegou quando o sol já havia se posto e a alegria não poderia ser maior: além de eleito, Pasqualotto ocupava o primeiro nome na lista dos vereadores mais votados em Bento Gonçalves.

Foram 1.832 votos confiados a ele, quase o dobro dos 919 conquistados na última eleição. Rafael tem 35 anos e é filho do falecido Clóris Pasqualotto – um dos mais tradicionais nomes da política bento-gonçalvense, que ocupou uma cadeira no Legislativo entre os anos de 1988 e 2004. O vereador mais votado da cidade quer seguir os passos do pai, embora os planos sejam ainda maiores. “Eu cresci na política e amo tudo isso. Quero muito fazer mais por Bento. E estarei disponível para trabalhar no Executivo”, disse, fazendo alusão de que almeja ser prefeito da cidade. Confira os principais trechos da entrevista ao SERRANOSSA.

SERRANOSSA – Você fez praticamente o dobro de votos em relação à eleição passada. A que você atribuir o resultado tão positivo nestas eleições?

Rafael Pasqualotto – O grande segredo foi entender o eleitor. Não adianta você querer fazer a política com as velhas práticas, com os mesmos jargões de antigamente, pois não funcionam mais. A população não é mais ingênua. A gente está diante de uma plateia inteligente, exigente, qualificada, que argumenta com o candidato e não engole mais esse tipo de ação. Minha abordagem ao eleitor foi muito corpo a corpo, muito pessoal. Não paguei para ninguém entregar em caixas de correio e, se isso aconteceu, alguém da minha equipe que se sentiu coagido a fazer. Mas essa é uma das velhas práticas que acredito que não funciona mais.

SN – Quanto você gastou na campanha?

Pasqualotto – Pouco menos de R$ 5 mil.

SN – Este valor é considerado baixo, comparado ao que outros candidatos investiram. Como ser o mais votado sem gastar tanto?

Pasqualotto – É um trabalho de longo tempo. Sou protestante, evangélico há 18 anos e sempre fui envolvido em muitas causas. Tenho acesso a muitas comunidades. Além disso, tenho votos de eleitores do meu pai, das igrejas, dos colegas de faculdade, de hotel, amigos de infância, enfim. Gosto de conviver com todos os tipos de pessoas, seja católico, budista, homem, mulher, até porque todos têm alguma coisa para compartilhar, contribuir.

SN – Qual que é tua experiência na política?

Pasqualotto – Eu nasci em 1981 e meu pai ganhou a primeira eleição em 1988, então eu praticamente cresci em um ambiente político, ouvindo meu pai falar sobre o assunto. Já na adolescência, eu fui trabalhar com ele na Câmara, onde permaneci por sete anos. Vivi a rotina do gabinete e do administrativo. Fui diretor de atas e anais e aprendi a gostar muito dos discursos, pois eu transcrevia todos. Na época, eram de uma política legal, de debates de alto nível. Então, além de gostar muito, aprendi todos os trâmites da Câmara.

SN – Agora eleito, o que você pretende fazer?

Pasqualotto – O meu maior projeto é gratidão. É corresponder a todos aqueles que nos procuraram. Em momento nenhum nós prometemos aquilo que não é atribuição do vereador. Tem muitos eleitores que nos cobram mudanças que não cabem a nós, como a questão das aposentadorias, a redução de impostos, a maioridade penal ou a legalização de determinadas drogas. Mas nos comprometemos a levar os interesses da população para Brasília. Vou regressar às casas dessas pessoas com cabeça erguida sempre, sabendo que não prometi nada que não fosse da nossa alçada. O que a comunidade precisar, estaremos sempre com o gabinete aberto. Vagabundagem não vai existir. Vamos atender a comunidade, ligar para secretários, sempre com muita responsabilidade e sem demagogia.

SN – Bento elegeu dez novos nomes para a Câmara. Como você avalia essa renovação?

Pasqualotto – A renovação sempre é imprescindível. Acho também importante que alguns permaneçam, especialmente por entender de todo o processo. Mas os vícios têm que ir embora. Acho que devemos respeitar o colega novo e o que permaneceu, afinal, eles foram escolhidos pelo povo para estar ali. E eu também quero acreditar que os que chegam agora vêm contribuir com debates novos, mas a população também tem que estar aberta à mudança. Hoje a gente vê que muitas questões não vão adiante, pois um ou outro não concorda. Mas a coletividade tem que estar em primeiro lugar. Precisamos começar debater e testar projetos. Sabemos que a família italiana/gaúcha é muito tradicional, mas precisamos pensar no novo. Não basta só o parlamentar querer, é preciso a população aceitar.

SN – Hoje as sessões da Câmara acontecem praticamente sem público. Recentemente, foi aprovado duas sessões semanais. O que você acha que tem que ser feito para atrair a comunidade a participar dos debates?

Pasqualotto – É preciso ter a consciência cidadã. Enquanto não tiver, isso não vai mudar. É cultural. Cada um é importante neste processo de decisão. Então, não vejo a curto prazo uma mudança. O próprio resultado das eleições, que apontou o alto índice de votos nulos e brancos, mostra que muita gente não quer se envolver na política. Com a relação às duas sessões, eu acho que deveria ter até mais que isso. A população (pelo menos as pessoas do meu grupo de relacionamento), não é contra o salário do vereador, é contra a vagabundagem. Sempre defendi que o vereador tem que ganhar bem, o prefeito tem que ganhar bem. Eu sei que o dinheiro é da comunidade, mas a iniciativa privada paga muito melhor que a pública. Se tirar salários dos vereadores, se fazer de forma voluntária, estamos fadados aos bons não quererem mais a política. Eu era gerente de Marketing do Dall’Onder e só vim para o lado da política porque está no meu sangue. Eu amo isso. Mas se não tivesse salário, eu não iria. A gente precisa sobreviver. Daqui a pouco, podemos ver empresários frustrados na vida privada, assumindo como vereadores e tomando decisões importantes para nosso dia a dia.

SN – O que se percebe na política de modo geral, é que muitos novos nomes iniciam o mandato dispostos a fazer diferente, mudar, mas acabam se acomodando ou corrompidos pelo “sistema”. Entram no comodismo. Como se manter motivado?

Pasqualotto – Vejo que primeiro ponto é saber com quem você se aliou na campanha. O círculo é simples e vicioso. O candidato não tem dinheiro e vai até o eleitor. O eleitor quer que seja atendida sua necessidade: quer brita, pede tijolo, pede o rancho. O candidato então vai até determinadas empresas ligadas ao Poder Público, que entrega o pedido ao eleitor. Pronto, você está amarrado durante todo o governo com essa empresa. Sem demagogia, nós procuramos não fazer isso aí, não depender de ninguém na campanha. A corrupção no mandato depende do que você construir na sua caminhada até chegar ao poder. Segundo ponto: é questão de princípios, de moral, de caráter, de ética. Isso não se conquista, se tem. Sei que muitas vezes a máquina vem patrolando, e muitas vezes têm que ceder. Mas vou procurar fazer um trabalho de alto nível, até porque meu projeto é de longo prazo.

SN – Você pretende ser prefeito?

Pasqualotto – Na próxima eleição, o prefeito Pasin não poderá mais concorrer à reeleição e os próximos também não, em função da nova legislação que prevê apenas um mandato de cinco anos. Eu gosto disso e estou aí.

SN – E se você for convidado para comandar alguma secretaria, você pretende assumir?

Pasqualotto – A princípio não. De início eu quero passar a experiência do meu pai. Eu quero ser vereador.

SN – Para finalizar, o que você tem a dizer para o eleitor?

Pasqualotto – Primeiro, quero agradecer a Deus. Só sou o que sou e só estou onde estou graças a Ele. Agradecer à minha família e a todos os eleitores. Não imaginava que seria o mais votado. Quero dizer que estou com os pés no chão e sei da minha responsabilidade. O vereador mais votado no pleito passado sequer foi eleito neste ano. Há uma esperança em cima do primeiro colocado. Ao mesmo tempo em que estou eufórico, também sei que é preciso empenho e dedicação para estar na vanguarda dos debates. A política é linda e o principal meio de transformação social. É preciso que as pessoas acreditem, participem, cobrem e se conscientizem.

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