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“Existem prostitutas aqui”, diz deputado gaúcho na CPMI do 8 de janeiro

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Integrante do grupo que investiga os atos violentos nos Três Poderes, em Brasília, Mauricio Marcon se disse indignado por ver colegas parlamentares votarem contra requerimentos da direita em troca de “cargos, emendas parlamentares e sabe-se lá mais o que”

Foto: Sérgio Lima/Podemos

Após mais de quatro horas de reunião, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro – quando os prédios dos Três Poderes foram invadidos e depredados, em Brasília – aprovou na terça-feira, 13/06, em blocos, a convocação inicial de 36 pessoas. Elas irão depor na condição de testemunha. Contudo, a lista de convocados não agradou a todos, principalmente, a oposição, que opina que o governo federal, comandado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cooperou para as invasões e depredações, assim, dando espaço para que apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e demais patriotas levassem toda a culpa. A participação de militantes de esquerda infiltrados também é inflada pela oposição.

Em vídeo publicado nas redes sociais, exaltado e se dizendo indignado, o deputado federal pela Serra Gaúcha, Mauricio Marcon (Podemos), que integra a CPMI, afirmou que a investigação foi cooptada pelo governo federal. “O que ficou claro aqui hoje [13/06], para toda a população brasileira […] é que essa CPMI foi cooptada. Cooptada por aqueles que estão acostumados a cooptar, afinal, esquemas de corrupção, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha. Pois bem, caro cidadão brasileiro, que tem alguma esperança que essa CPMI chegue a algum lugar, ela não vai chegar a lugar nenhum, porque o governo primeiro deu a vida para que ela não existisse. Aliás, a vida não. Cargos, dinheiro para deputados através de emendas e sabe-se lá mais o que. Porque eu, como um parlamentar honesto, não recebi nenhuma oferta […] e aliás, se me fizerem oferta, eu vou gravar e vou botar na imprensa, porque eu tenho caráter”, disse.

Ainda mais exaltado, Marcon chamou colegas parlamentares de “prostitutas” por votarem contra requerimentos de convocação, como, por exemplo, do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino. “Infelizmente presidente, tem parlamentar que se elege com uma pecha de ser conservador, defensor do Estado Democrático de Direito, chega aqui e vira prostituta, prostituta é o que vira, porque vendem a sua alma, o seu caráter e a sua decência por meia dúzia de cargos e agora fica votando com o governo para não investigar o que tem que investigar”, comentou.

Desafeto do senador Randolfe Rodrigues (Rede-PE), o deputado gaúcho, de forma irônica, o chamou de “treinador”, visto a proximidade com a relatora Eliziane Gama (PSD-MA). “Toda vez que tem alguma coisa para ser votado, Randolfe Rodrigues se levanta, vai fuxicar no ouvido da relatora Eliziane Gama. Treinador! Temos um treinador. É tudo pronto. Nós estamos aqui como palhaços. A oposição que lutou por essa CPMI.”

Hoje eu vi uma das cenas mais pitorescas da minha vida […]: um monte de sorriso, beijinhos, abraços, apertos de mão, quando eles conseguiram evitar que Flávio Dino e toda a turma dele fosse ouvida nessa CPMI, que as imagens fossem disponibilizadas para essa CPMI.

Mauricio Marcon, deputado federal

Pelo Twitter, Marcon ‘se explicou’ sobre cobranças de que parlamentares da direita não conseguem se articular para aprovar requerimentos próprios. “Somos em número MENOR do que os governistas e ex-direitistas cooptados por cargos e emendas, matematicamente seremos sempre atropelados, em média, eles tem 20 e nós 12 votos. Fizemos quase o impossível para segurar o requerimento da CPMI, fazemos reuniões semanais, trabalhamos muito para que os abusos e as omissões sejam esclarecidos, mas temos o nosso limite, não de esforço mas sim de número de parlamentares. Criticar sempre é mais fácil, mas se essas críticas fossem direcionadas aos cooptados, talvez nosso trabalho na CPMI seria um pouco mais fácil”, escreveu.

As decisões da CPMI

Entre os convocados para depor na CPMI estão nomes de integrantes do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, como o ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do DF Anderson Torres, o tenente-coronel Mauro Cid (ex-ajudante de ordens de Bolsonaro), o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Augusto Heleno e o ex-ministro da Defesa Braga Netto. A reunião foi marcada pelos primeiros embates entre governistas e oposição sobre os critérios e procedimentos a serem adotados no curso da investigação.

De acordo com o presidente da comissão, deputado Arthur Maia (União-BA), ainda não há qualquer acordo para o início das oitivas e nem sobre quem serão os primeiros depoentes. “Eu vou me reunir hoje [13/06] ainda com a Mesa para que nós definamos se, dentro dos que estão convocados ou convidados, já poderemos chamar alguém para a próxima terça-feira [20/06]”, afirmou.

Centenas de requerimentos com pedidos de informações e acesso a imagens também foram aprovados. Entre eles, relatórios da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) com alertas sobre os riscos de ataques no dia 8 de janeiro. No total, foram colocados em votação mais de 285 requerimentos, sendo 181 de pedidos de informação e 39 de convocações.

Sob protesto da oposição, a maioria da comissão rejeitou uma série de requerimentos que solicitavam, entre outros objetos, acesso a imagens do Ministério da Justiça e Segurança Pública e do Itamaraty no dia do ataque. Foram rejeitados também requerimentos de convite ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, a convocação do ex-ministro do GSI Gonçalves Dias e do ex-diretor adjunto da Abin, Saulo Moura da Cunha, nomeados já no atual governo.

Eles decidiram deixar de fora desse primeiro momento da investigação o compartilhamento dos planos de segurança da viagem do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, à cidade de Araraquara, em São Paulo, no mesmo final de semana dos ataques em Brasília.

Para a oposição, a articulação dos governistas para rejeitar em bloco todos os requerimentos que, segundo eles, buscam apurar uma possível omissão federal pode prejudicar a imparcialidade do relatório. “Nós não podemos apurar apenas os atos. Nós precisamos apurar as omissões. E para ter as omissões, vários requerimentos aqui… Eu sei que já aprovaram alguns, mas tem requerimentos aqui importantes que vão dizer que tudo isso poderia ter sido evitado no dia 8 de janeiro”, disse o senador Izalci Lucas (PSDB-DF).

*Com informações de Agência Senado