Guilherme Pasin: mais 1.461 dias de desafios intensos à frente da prefeitura
O mais jovem prefeito a governar Bento Gonçalves. O mais jovem e o segundo na história da cidade a conseguir se reeleger por dois mandatos consecutivos – antes dele somente Darcy Pozza, um dos maiores nomes da política local, havia sido reeleito. Um jovem, com índices de aprovação de político experiente, que ampliou de 383 para 32.505 votos a diferença para o concorrente direto em sua segunda eleição ao Executivo. Um jovem que, como ele mesmo diz, não conseguiu se eleger vereador, mas foi reeleito prefeito, que assumiu o maior desafio da sua vida ao se dispor a governar Bento Gonçalves e que, nesse meio-tempo, também se tornou marido de Cynthia e pai de Ana Beatriz, hoje com 11 meses. Guilherme Pasin, 33 anos, segue à frente da Capital Brasileira da Uva e do Vinho e de todos os desafios que ela apresenta, por mais quatro anos. O desejo dele pode ser resumido em apenas cinco letras: união.
Sereno, apesar do cansaço visível de quem passou 45 dias intensos conciliando campanha com o comando da cidade, Pasin mantém em seu discurso a necessidade vital de somar forças, seja para apontar dificuldades (e soluções viáveis para elas) quanto para fazer um projeto evoluir da teoria para a prática.
Guilherme Pasin se recusa a enxergar o lado negativo das situações, embora admita que ter confiado em pessoas que não queriam ajudar a cidade foi um dos arrependimentos de sua primeira gestão. Confiante em sua capacidade de superar os mais diversos desafios, diz estar orgulhoso pela quebra do paradigma imposto pela antiga política, no qual somente grandes obras erguidas onde houvesse circulação maciça de pessoas eram reconhecidas como feitos de valia de um gestor público.
O prefeito defende que são problemas pequenos que criam as maiores demandas e que, muitas vezes, podem ser solucionados de maneira extremamente simples. Cita educação e saúde como palavras recorrentes na primeira campanha, que foram substituídas por um clamor popular por segurança, quatro anos depois. E, nesse novo contexto, os esforços do Poder Público Municipal para convencer o governo do Estado a construir uma nova casa prisional afastada do centro urbano se tornam parte primordial do discurso. “Há quatro anos, só se falava em educação e saúde. Ao assumirmos, abrimos mão de muitos de nossos projetos para fazer o que a população queria e deu certo. Prova disso foi o recado das urnas. Agora, nosso maior desafio é tornar a cidade ainda mais segura. Fomos além do que estava ao nosso alcance buscando o novo presídio. Nosso projeto não só colocou Bento Gonçalves como uma das cidades que têm prioridade nesse sentido como já se mostrou plenamente viável em Porto Alegre. Seguiremos cobrando por entender que enquanto não houver um presídio capaz de receber detentos, os pequenos crimes – que são os que mais nos machucam – continuarão. Sem contar as consequências desse cenário, como a desmotivação de quem atua na área da segurança”, argumenta.
Outro assunto da mesma área que segue entre as demandas, embora já tenha se provado insustentável, é a criação de uma Guarda Municipal. “Esse projeto se mostrou inviável ainda durante o primeiro ano do nosso governo. Enquanto candidato, não tinha acesso a números e a informações específicas. Hoje, tenho convicção de que, além de não ser resolutiva, a Guarda Municipal demandaria um tempo que não temos, uma vez que, entre a abertura e realização de concurso, formação, habilitação junto à Polícia Federal e implantação, seriam necessários mais de dois anos. E a segurança não pode esperar dois anos”, defende.
Ex-deputado e ex-prefeito Darcy Pozza, um dos mentores políticos de Pasin, participou da festa de comemoração. Foto: Davi Da Rold
Com a malícia de quem foi doutrinado e até hoje segue os ensinamentos de um dos maiores ícones da política regional, o ex-deputado e ex-prefeito Darcy Pozza, Pasin revela uma admiração à tranquilidade que só a experiência é capaz de proporcionar. Pozza teve papel essencial na primeira campanha de Pasin ao Executivo, em 2012, mas sofreu um Acidente Vascular Cerebral durante um discurso e, desde então, enfrenta dificuldades motoras e de comunicação. A aparição de Pozza na festa da vitória no centro da cidade surpreendeu e emocionou muita gente. “Tenho o Darcy como alguém da minha família, a quem tento não decepcionar. Sempre que tenho uma decisão importante a tomar, penso no que ele faria e lembro-me do que ele me ensinou. Busco conversar com pessoas com as quais ele tinha contato e recordar como ele agia em situações semelhantes”, comenta. Pasin diz que, apesar das sequelas sofridas, Pozza está lúcido. “Dava para ver nos olhos dele a alegria. Ele se emocionou durante a comemoração. A presença dele faz muita falta”, lamenta.
Pasin e Aido durante a festa que comemorou a vitória nas urnas. Foto: Davi Da Rold
A experiência do vice-prefeito eleito, Aido Bertuol, é tida por Pasin como uma oportunidade de aliar novas ideias com as lições que quem já ocupou o lugar de maior autoridade de Bento Gonçalves aprendeu – Bertuol foi prefeito em duas oportunidades: de 1986 a 1988 e de 1993 a 1996. “A tranquilidade do Aido me faz muito bem”, confidencia. “Tudo muda quando a gente se torna prefeito. Abre-se mão da juventude, dos hobbies, da família. Não se é prefeito em horário comercial, de segunda a sexta. É uma experiência que exige dedicação em tempo integral. Quando chove, eu não durmo, preocupado com as possíveis consequências. Era assim com o Darcy, foi assim com o Aido. O senso de preocupação aumenta de forma gigantesca, mas o orgulho por ter sido reeleito também”, conta.
Pasin se define como centralizador e diz acreditar muito em pesquisas sérias. Tanto que disse não ter se surpreendido com a vitória, apenas com o índice acima do esperado de aprovação. “O recado foi claro. O governo foi aprovado. Muita gente boa ligada ao governo se elegeu também na Câmara de Vereadores e isso mostra que estamos no caminho certo”, conta.
E por falar em desejos da população, Pasin garante que entendeu o que ele chama de “voz das urnas”. “Mais do que grandes obras, as pessoas querem excelência no serviço. Não vamos inventar a roda, mas precisamos nos reinventar. Hoje a diferença entre a queda na arrecadação e o aumento na demanda por serviços públicos é de 35%. Isso significa que a baixa arrecadação é apenas um dos pontos da crise. Na mesma proporção em que as pessoas perdem seus empregos, o poder aquisitivo delas diminuiu e elas perdem as condições de pagar um plano de saúde e uma escola particular, por exemplo. Isso acarreta em um aumento drástico na demanda pelos serviços municipais”, explica.
Para equilibrar a balança, a proposta de Pasin é fazer mudanças imediatas. “Já dei início a uma reorganização administrativa que tornará a máquina pública mais enxuta e mais resolutiva, através da criação de três grupos de trabalho. Não se trata de alterar quantidade, mas de remanejar o poder de mando. Não pode ser mais como nos últimos quatro anos. Foi bom, mas é preciso que tanto o prefeito quanto os secretários se tornem táticos, não operacionais. Quero mudar o processo para que possamos ter a tranquilidade de pensar a cidade e discutir como torná-la mais legal, onde as pessoas curtam morar, que tenham segurança, acesso à saúde e educação de qualidade e da qual se orgulhem. E, para isso, é importante conseguir ouvir pessoas com visão diferente da nossa”, adianta.
Guilherme Pasin é o mais jovem e o segundo na história da cidade a conseguir se reeleger por dois mandatos consecutivos. Foto: Greice Scotton
De onde Pasin pretende tirar motivação? Das cobranças. “Muitos dizem que Bento é uma cidade exigente. Eu acredito que isso não seja algo negativo. Basta atender uma demanda e logo outra surge. Quando a estrada é de chão batido, a comunidade pede patrolamento e brita. Em seguida, surge a demanda por bocas de lobo. Feito isso, pedem asfalto e, mal a obra terminou, a exigência vira uma lombada para reduzir a velocidade dos carros. Mas se não fossem essas cobranças, não teríamos evoluído tanto, estaríamos acomodados”, avalia. “A ideia é agir com naturalidade frente aos pedidos e não ficar parado. Mas é preciso que as pessoas entendam certas necessidades, como que o aumento no número de serviço implica diretamente na obrigação de ampliar também a mão de obra”, diz.
Se os planos futuros incluem uma candidatura a deputado, durante o mandato? Está na mão da população. “Quando alguém pensa de forma egoísta, faz projetos pessoais. Quando se entende o que a comunidade quer, se coloca à disposição dela. Eu quis ser servidor público desde sempre, sou prefeito e fui reeleito porque a população quis. O mandato é de quatro anos e somente quem pode mudar isso é a população, é ela quem vai dizer se a cidade está madura o suficiente”, argumenta.