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Jovem de Bento Gonçalves acompanha coroação do Rei Charles III direto do Reino Unido

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O filho da Rainha Elizabeth II, que faleceu em setembro de 2022, foi coroado no último sábado, 06/05

Foto: Hugo Burnand/Royal Family/Instagram

Após quase oito meses de espera e de muita ansiedade, Charles III, aos 74 anos, foi coroado como novo rei do Reino Unido no último sábado, 06/05. Como tradicional na realeza britânica, Charles recebeu a coroa em uma cerimônia com toda pompa e circunstância na Abadia de Westminster, onde sua mãe, a rainha Elizabeth II, recebeu há 70 anos. A mais longeva rainha da história do Reino Unido morreu em setembro de 2022. Na abertura da cerimônia, que foi transmitida para o mundo todo, Charles foi recebido por Samuel Strachan, um corista da Capela Real, que lhe dá as boas-vindas, como “filhos do reino de Deus” e em nome do “Rei dos reis”.

Sentado na Cadeira do Estado, Charles realizou o Juramento de Coroação, comprometendo-se a defender a lei e a Igreja da Inglaterra, e o Juramento da Declaração de Adesão, declarando-se um “fiel protestante”. “Eu, Charles, solene e sinceramente na presença de Deus, professo, testifico e declaro que sou um fiel protestante e que irei, de acordo com a verdadeira intenção das leis que garantem a sucessão protestante ao trono, defender e manter as referidas promulgações com o melhor de meus poderes de acordo com a lei”, afirmou o rei.

Camila Parker, esposa de Charles desde 2005, também foi coroada. Ela deixou de ser chamada de “rainha consorte” para apenas “rainha”. A mudança não implica em mais ou menos poder, afinal, ela seria considerada rainha consorte de qualquer jeito, visto que rainha em si é aquela pessoa que está na linha de sucessão ao trono, como era o caso de Elizabeth II.

Para entender melhor o que esse momento significa, o SERRANOSSA conversou com a bento-gonçalvense e pesquisadora na Universidade de Edimburgo Maiara Piovesana, que mora em Edimburgo, na Escócia. Maiara conversou com a reportagem na época do falecimento de Elizabeth II. Segundo ela, o momento é especial, visto que essa é primeira coroação de um monarca britânico em 70 anos. “Eu achei fascinante poder assistir – ainda que pela televisão – uma cerimônia com tantos simbolismos, tanta tradição, e que ocorre há milhares de anos aqui no Reino Unido”, afirma.

Na visão de Maiara, a reação das pessoas quanto à coroação mostra que a monarquia ainda tem apoio. “Tenho a impressão de que a grande maioria da população ainda apoia a monarquia, por ser uma instituição que está tão entranhada na fábrica social do Reino Unido. Então, de maneira geral, vimos uma grande parcela da população comemorando a coroação, vários produtos temáticos e souvenires celebrando o novo rei e rainha à venda nas lojas, e muito interesse do público em acompanhar a cerimônia que ocorreu no sábado. As ruas de Londres estavam lotadas e pudemos acompanhar pelos meios de comunicação que muitas pessoas viajaram de muito longe e até acamparam na noite de sexta-feira para sábado para garantir um bom lugar ao acompanhar a procissão. Sem dúvidas foi um momento que, de uma perspectiva histórica, foi único de se acompanhar”, pontua.

Poder político

O Reino Unido utiliza o Parlamentarismo como regime político. Ou seja, a população exerce a democracia, porém, não escolhe um presidente, por exemplo, mas sim parlamentares. É a partir desses escolhidos que irá surgir a figura do primeiro-ministro, sendo ele ou ela a figura responsável por comandar o país politicamente de fato. Mas e o rei? Segundo o professor de História em Bento Gonçalves Matheus Righes, a figura da nobreza é figurativa, mas importante.

“É meramente ilustrativo, tanto que todas as funções do rei elas são figurativas. São todas de protocolo. O rei não tem poder político nenhum. A gente pode dizer que o rei tem influência? Sim ele tem, mas não como político e sim como um representante do poder, uma representação de poder. Ele tem toda aquela construção da identidade nacional britânica, inglesa, que é voltada para essa ideia de ter uma nobreza, de ter toda essa ideia da monarquia, só que desde as revoluções inglesas lá nos séculos XVI e XVII, a figura do rei ela passa a ser totalmente ilustrativa. O rei ele reina, mas não governa, quem governa é o Parlamento, uma representação de uma democracia, no caso”, pontua.

Para Righes, mesmo sem criar leis ou ditar uma política econômica, por exemplo, o rei ou rainha tem um papel importante em representar quem é aquele povo – mesmo que isso envolva alguns escândalos. “Como um símbolo de poder, a Casa Real Britânica ela é praticamente um Big Brother para a população. Ver o que eles fazem, ver qual que é a vida luxuosa deles. Então assim, o rei, ele ainda vai ter algum papel para a sociedade, mas como uma celebridade, praticamente. Ele vai prestigiar eventos, vai fazer coisas, mas totalmente de forma solene. Eu acho que é importante saber que, claro, como toda celebridade sempre tem os escândalos […] mas acredito que seja só uma forma de manter a tradição, de ter um motivo para se orgulhar da sua nação. É simbologia nacional clássica, então representa para eles isso, é a identidade do povo inglês e da nação inglesa isso, embora a gente saiba que os valores atuais, os valores do mundo, de hoje em dia, são totalmente outros.”

O Rei Charles III e a agora rainha Camila Parker. Foto: Royal Family/Instagram

Apoio

Segundo pesquisa do YouGov, relativa ao primeiro trimestre de 2023, Charles III é admirado por pouco mais de 55% dos entrevistados. Para níveis de comparação, o Príncipe William, filho de Charles e primeiro na linha de sucessão ao trono, é apoiado por 65%. Segundo Maiara, naqueles que apoiam a monarquia, é possível perceber um apoio e carinho ao rei e seu reinado. “Eu acredito que isso tenha a ver com o fato de que a instituição ‘monarquia’ e ‘família real’ são maiores do que cada indivíduo que a compõe, e apesar da rainha Elizabeth II ter sido única em seu longevo reinado, em seu carisma e sua relação com o povo britânico, acredito que o povo britânico – aqueles que apoiam a monarquia, é claro – tem sido e continuará sendo receptivo ao rei Charles”, afirma.

Para a jovem pesquisadora, o histórico do rei com causas sociais e com o meio ambiente consegue ultrapassar possíveis críticas. “Durante as décadas em que ele serviu como Príncipe de Wales, Charles tem usado sua posição pública para arrecadar fundos e apoiar diversas causas sociais, e um dos mais notórios exemplos é o ‘Prince’s Trust’, uma instituição de caridade que já arrecadou muito dinheiro e ajudou milhares de jovens das camadas mais pobres da sociedade. O agora Rei também sempre usou sua voz para falar sobre o meio ambiente e a importância da sustentabilidade, algo que sabemos ser de extrema importância nos dias de hoje. Então, acredito que por esses atributos, o Charles conquistou o respeito e a admiração de muitas pessoas, e acredito que o seu reinado vai ser caracterizado por isso: uma monarquia que apesar de respeitar e prezar pelas tradições milenares, está com os olhos voltados para o futuro.”

De acordo com o professor de História, é normal, historicamente, que líderes sejam mais ou menos populares, porém, a tradição de séculos da Família Real e da monarquia impede que ela sofra riscos de ser extinção.

O futuro

Para o futuro, Charles III tem o desafio de substituir uma rainha que fez história, não só no Reino Unido, mas no mundo. Adepta das tradições, mas também com olhares para o futuro que se aproximava, Elizabeth II deixou sua marca, seja no mundo antigo ou no mundo moderno. Agora, com Charles a frente do trono real, mais do que nunca, a monarquia inglesa, que é envolta em tantos mistérios e protocolos, precisa acompanhar o passo mundial. Para Maiara, o novo rei tem capacidade para isso.

“Acredito que Charles tem deixado muito claro ao longo dos anos a sua posição de que a monarquia não seja uma instituição estática, mas que se transforme juntamente com a sociedade, pra que continue servindo ao seu propósito. O Rei sempre foi extremamente envolvido com causas sociais, ambientais, sempre apoiou e praticou diversas formas de arte, e eu espero que esses interesses se reflitam no seu reinado, enquanto apoiador das mais diversas formas de expressão e respeito à diversidade cultural. Algo que exemplifica esta posição foi o fato de que, apesar de ser o líder da Igreja anglicana, o Rei convidou líderes de outras religiões para estarem presentes em sua coroação, em um claro sinal de seu respeito pela diversidade religiosa que é tão característica da sociedade britânica. Então, acredito que apesar dos pesares, sua Majestade, Rei Charles III, poderá deixar um ótimo reinado como legado se seguir os interesses e ideias que nortearam a sua vida até hoje”, finaliza.

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