Docência em transformação

Muitas foram as perdas geradas pelas medidas restritivas que a pandemia da Covid-19 impôs a todos nós, porém pouco se comenta sobre os benefícios que ela provocou nas pessoas e nas organizações sejam elas cooperativas, públicas ou privadas.

Sem hipocrisia, todos nós somos conhecedores dos malefícios e benefícios que a contingência sofrida pelo “fique em casa” provocou nos mais diferentes aspectos do cotidiano. Comigo não foi diferente. Aprender a gerenciar o tempo (o trabalho entrou na minha casa e, no meu caso, o computador estava sempre ali… chamando), mediar as urgências do outro (colega de trabalho) considerando os múltiplos aspectos psicológicos envolvidos no momento; os estudantes buscando as aprendizagens de diferentes formas (o que para muitos já era rotina – complementar as aulas presenciais com a busca por materiais de fácil compreensão, pesquisas frequentes, atividades pelo grupo WhatsApp da turma, algumas até “clandestinas”), incorporar a curadoria de materiais para promover no estudante que não tinha amplo acesso tecnológico a manutenção dos processos educativos. Poderia ficar aqui citando inúmeros momentos desafiadores. Também tivemos ganhos no cuidado com a saúde, na manutenção do emprego, na facilidade de participação em congressos, seminários, simpósios e cursos gratuitos que em outros tempos não teríamos condições, ou por conta do alto custo gerado pelo deslocamento, hospedagem, inscrição nos eventos, ou em virtude da liberação das horas de trabalho.

Então, estando tudo on-line facilitou e muito a formação continuada e construção de novas trajetórias profissionais. Vivemos um período de intensas experiências, nos termos que aborda Jorge Larrosa (2017,p.18), de que a experiência “é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca”.

A pandemia nos colocou frente a uma perspectiva desconhecida da vida, a um problema não simulado, num contexto em que a própria prática resultaria nas teorias que ainda estamos por escrever.

Foi nesse contexto que a imprevisibilidade da vida nos apresentou um problema real: a necessidade de virtualizar as aulas, de repensar estratégias de ensino, de lidar com as dificuldades de nossos alunos no acesso diário às aulas, de intervir ativamente mesmo que distante, de modo muito próximo ao estudante.

O ensino remoto foi criando forma no fazer cotidiano dos docentes, os Ambientes Virtuais de Aprendizagem deixaram de ser exclusividade da tradicional Educação a Distância e passaram a promover a interação entre os atores pedagógicos, numa dinâmica educativa cada vez mais interacionista, na qual a construção do conhecimento mediado pelas tecnologias ganhou sentido e norteou o desenvolvimento de competências e habilidades a partir do protagonismo discente e docente.

Entretanto, muitos ainda desejam um “retorno”, querem as coisas como estavam lá em 2019. Lembremos o que destacou Albert Einsten: “Uma mente que se expande jamais voltará ao estado original”. As vivências dos professores e dos estudantes promoveram um salto qualitativo no protagonismo educacional.

Com base nessas vivências, as discussões contemporâneas estão relacionadas à fluidez do ensino, numa sincronia que mescla momentos de aprendizagens presenciais (off line) e digitais (on-line).

José Moran deixa claro que “A educação sempre foi misturada, híbrida. Sempre combinou com vários espaços, tempos, atividades, metodologias, públicos. Este processo, agora, com a mobilidade e a conectividade, é muito mais perceptível, amplo e profundo: é um ecossistema mais aberto e criativo. Podemos ensinar e aprender de inúmeras formas, em todo os momentos, em múltiplos espaços” (MORAN, 2015-p.27).

A flexibilização de tempos e espaços privilegia o ritmo de aprendizagem do estudante, o que torna o hibridismo uma importante estratégia que não pode ser ignorada, que se soma aos processos de aprendizagens customizadas e pensadas no aluno, do estímulo ao protagonismo, à ampliação do uso de métodos inovadores como gamificação, apps, trilhas de aprendizagens e pílulas do conhecimento que, sincronizadas com o uso de metodologias ativas, viabilizam o engajamento discente.

A UCS, com o curso Design de Aprendizagem para o Ensino Remoto e Híbrido, promoveu nos dias 21 e 22 de abril, essas e outras discussões, além de fornecer subsídios para a construção de trilhas de aprendizagens, utilizando os recursos educacionais dos diferentes ambientes virtuais na interface com o ensino presencial. Contou com a presença de estudantes de licenciatura, docentes do Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.