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Núcleo de Orientação frente ao Suicídio: Uma proposta para a manutenção da vida

  • Posto Ravanello
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O suicídio é um fenômeno presente na humanidade há anos. É um tema complexo e, por esta mesma razão, de difícil manejo. Por não existirem receitas prontas para tais questões que envolvem a morte, inevitável ou por escolha, as ciências têm se debruçado de forma transdisciplinar na tentativa de compreender algumas razões que possam estar relacionadas à destruição do homem a si próprio. O suicídio é um fenômeno que compreende a sociedade como um todo, sendo considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) um problema de saúde pública, sem distinção de raça, cor, crença ou classe social. Além disso, traz um paradoxo que envolve a escolha de morrer versus o medo social da finitude. Hoje, não se fala em um número maior de suicídios necessariamente, ou seja, não significa que mais pessoas estejam se suicidando, mas o próprio assunto tem vindo à tona de forma mais acentuada, pois se torna difícil esconder, omitir, enganar. O suicídio afeta profundamente os familiares, amigos, conhecidos e demais pessoas que apresentavam algum tipo de vínculo com a pessoa que morreu. Trata-se de um caso especial de perda, um tipo de luto não-reconhecido, por ser mal compreendido pelo senso comum e superficialmente discutido pela sociedade, podendo acarretar em fator de risco para os sobreviventes. Tal fenômeno tem disso: sofre críticas e julgamentos o tempo inteiro, quando não as brincadeiras que são feitas a partir do acontecimento, justamente pelo desconhecimento e angústia das pessoas, e acaba sendo resguardado a um fato isolado, muitas vezes mantido em segredo pelos familiares, reforçando o estigma social já instaurado.

Foi pensando nas várias implicações que o suicídio causa a nível individual e coletivo que a psicóloga Franciele Sassi, especialista em luto e perdas, vem elaborando um projeto de trabalho que busca pesquisar, compreender e intervir sobre situações de suicídio, tanto na prevenção de incidências, quanto diante dos conflitos que vêm ocorrendo. A psicóloga, neste ano, traz a novidade: o Núcleo de Orientação frente a circunstâncias de Suicídio (N.O.S) de Bento Gonçalves, composto por diferentes serviços disponibilizados ao público leigo e profissional: grupos de estudos a estudantes e profissionais, supervisões clínicas para profissionais que estejam atendendo pessoas neste contexto, atendimentos clínicos a nível individual e familiar sob o viés de psicoterapia tanto para as pessoas que fizeram tentativas e sobreviveram quanto para as famílias que tiveram um de seus membros nesta situação, workshops e cursos de extensão para o público interessado, além de construir planos de trabalho para intervenções junto a diferentes instituições (escolas, empresas, hospitais, UBS, outros centros de trabalho/ensino, etc.). A equipe de trabalho escolhida para a atuação em Bento e proximidades são as estudantes de Psicologia Camila Dornelles e Sara Zorzanello Dal Mas, em final de graduação, que serão conduzidas por uma metodologia de trabalho específica, e permanecerão sob a supervisão e orientação da psicóloga Franciele quanto à instrumentalização para o manejo na prevenção e tratamento diante de circunstâncias de suicídio.

O Núcleo de Bento Gonçalves ficará sob a responsabilidade e coordenação da psicóloga Franciele. O assunto é de extrema relevância, porque o fenômeno, uma vez acontecido, abre margem para novos episódios, percebidos como uma espécie de ‘contágio social’. Portanto, a psicóloga ressalta a importância de trabalhar com esta área e ampliar possibilidades de falar sobre o assunto para atuar preventivamente.