A beleza de ser um eterno aprendiz!

O título desse artigo remete a uma das músicas preferidas nas cerimônias de formatura de graduação: “O Que é, o Que é”, de Gonzaguinha. Uma frase de profundo e intenso significado, devido ao papel fundamental da aprendizagem em nossas vidas, em contextos crescentes de volatilidade, instabilidade, complexidade e ambiguidade. Para evidenciar que o título vai além da música, comento sobre os resultados de três publicações deste ano, do Fórum Econômico Mundial, da OCDE e da revista Época Negócios (nov.).

O Relatório do Fórum Econômico Mundial (Insight Report) refere-se ao futuro da educação e da aprendizagem, denominado de Educação 4.0. É uma abordagem que considera a educação de uma maneira inclusiva e em uma ampla gama de capacidades para o profissional do futuro, tendo como foco quem aprende, a partir de inovações tanto tecnológicas quanto pedagógicas. Além disso, apresenta indícios de que a educação promove maior capacidade inovativa, maior consciência e engajamento social e maior tolerância.

O documento indica, por exemplo, que investimentos em competências críticas, como solução colaborativa de problemas, poderão adicionar US$ 2,54 trilhões na economia global. O Brasil, nesse sentido, teria um incremento de US$ 145 bilhões no seu PIB. Para possibilitar tal transformação, o relatório enfatiza três áreas-chave para investimentos: novos mecanismos de avaliação, adoção de novas tecnologias para aprendizagem e valorização/qualificação dos professores.

Nessa perspectiva, destaco o papel primordial da educação superior para o avanço do desenvolvimento humano. Segundo o estudo da OCDE Education at a Glance, tal nível permite maior empregabilidade e maiores níveis de renda para os indivíduos, além de maior produtividade à economia, sem contar os outros benefícios à sociedade. Nos países da OCDE, a educação terciária está a ponto de se tornar o nível mais comum de instrução entre os adultos de 25 a 34 anos, com participação passando de 38% para 47% no período de 2011 a 2021.

Nesse mesmo período, a título de exemplificação, a Coreia do Sul passou de 64% para 69%, Japão de 59% para 65%, os Estados Unidos de 43% para 51% e a França de 43% para 50%. Já Portugal foi de 27% para 47%, Chile de 22% para 41%, Alemanha de 28% para 36%, Itália de 21% para 28%, México de 19% para 27% e Índia de 14% para 21%. O Brasil passou de 13% para 23%. O estudo destaca que o mercado de trabalho continua absorvendo esse aumento, mesmo em países mais desenvolvidos.

Conforme o relatório, a educação superior tem o desafio de dar conta das necessidades do mundo do trabalho no contexto da diversidade e da flexibilidade. Nesse aspecto, um ponto que causa preocupação é o percentual de adultos que não trabalha e nem estuda, os “nem-nem”. No Brasil, a população de 18 a 24 anos nessa situação é de 36%, enquanto que na Turquia é de 32%, na Itália de 27%, no Chile de 26%, no México de 22%, nos EUA de 17%, em Portugal de 14% e na Alemanha de 10%.

Por fim, em uma perspectiva organizacional, a pesquisa que definiu as 150 Melhores Empresas para Trabalhar do Brasil (GPTW), publicada pela Época Negócios, salienta a importância das oportunidades de aprendizado e do desenvolvimento profissional. Tais empresas, que apresentaram crescimento no faturamento de 30% nos últimos dois anos fiscais, destacam-se pela oferta de bolsas de estudo para graduação e pós (73%), programas de coaching (72%), subsídios para cursos de idiomas (71%) e universidades corporativas (58%). Para os funcionários, os principais fatores para a permanência no trabalho são as oportunidades de crescimento (46%) e a qualidade de vida (26%). O compromisso com a educação, em todos os seus níveis, transformadora, de qualidade e para todas as idades, permeia a sociedade como um todo.

Aprender é colocar conhecimento para fora e não para dentro, conforme alerta Conrado Schlochauer, no livro Lifelong Learners. Envolve questões emocionais, coletivas e de práticas, não somente cognitivas, em contextos econômicos, socioculturais e políticos. Aprender para toda a vida será, cada vez mais, simplesmente o fim do começo e não o começo do fim. A beleza de ser um eterno aprendiz!